Chokri Belaid, um dos líderes da oposição tunisiana,
foi morto a tiros nesta quarta-feira, em Túnis, um assassinato que
provocou manifestações contra o poder islamita, violentos confrontos com
a polícia, que deixaram um agente morto, e o anúncio de um novo
governo. Após essa morte, no primeiro assassinato político desde a revolução
de 2011, o primeiro-ministro Hamadi Jebali fez um discurso à nação
durante a noite para anunciar que formará um "governo de personalidades
nacionais competentes sem filiação política". "Decidi formar um governo de personalidades nacionais competentes sem
filiação política que terá um mandato limitado para a gestão dos
assuntos do país até a realização de eleições no prazo mais breve",
declarou. Em sinal de protesto após o assassinato de Belaid, quatro formações
opositoras laicas - a Frente Popular, a Al-Massar (esquerda), o Partido
Republicano e a Nidaa Tounes (centro)- convocaram uma greve geral e
suspenderam a sua participação na Assembleia Nacional Constituinte. A paralisação deve ocorrer na sexta-feira, dia do funeral. Mas os sindicatos de advogados, magistrados e do Ministério Público
anunciaram que entrarão em greve já a partir de quinta, assim como os
professores da maior universidade do país, em Manouba, subúrbio de
Túnis. Os parentes da vítima acusaram o partido islamita no poder Ennahda de
ser o responsável pelo assassinato, suscitando temores de um novo ciclo
de violência em um país já minado par uma crise política, social e
econômica e que tem dificuldades para se reerguer após a revolução que
derrubou Zine El Abidine Ben Ali em janeiro de 2011. Denunciando um "assassinato odioso", o presidente Moncef Marzouki, um
laico que mantém relações tensas com o Ennahda, cancelou uma viagem ao
Cairo e retornou às pressas da França para Túnis. Ele convocou uma
reunião com lideranças políticas e autoridades de segurança. Chokri Belaid, de 48 anos, líder da oposição de esquerda e crítico
ferrenho do governo atual, foi morto quando deixava a sua casa de manhã
com três tiros à queima-roupa, de acordo com o primeiro-ministro. "Meu marido foi ameaçado diversas vezes e havia feito várias
advertências, sem resultado. Respondiam a ele que deveria assumir o fato
de que era um opositor", declarou Besma Khalfaoui, no hospital, com a
calça suja de sangue. Ela e o irmão da vítima, Abdelmajid Belaid, acusaram o chefe do
Ennahda, Rached Ghannouchi. "Ghannouchi, seu cão sujo", gritava
desesperado o pai do opositor. Mas Ghannouchi negou qualquer envolvimento, considerando que seus
autores "querem um banho de sangue" na Tunísia. "Não é só um ato de
terrorismo contra Belaid, mas contra toda a Tunísia", disse Jebali. Após os primeiros confrontos nesta manhã entre policiais e
manifestantes, uma multidão acompanhou a ambulância que transportava o
corpo do opositor. O veículo chegou a parar na avenida Bourguiba, em
Túnis, diante do Ministério do Interior, símbolo da repressão contra os
opositores. "O povo quer a queda do regime!" "O povo quer uma revolução de novo",
"Ennahda torturador do povo", gritavam os manifestantes, entoando o
hino nacional em vários momentos. Após a passagem da ambulância, uma multidão de jovens atacou
novamente a polícia com pedras. Um blindado da guarda nacional disparou
bombas de gás lacrimogêneo no momento em que os manifestantes erguiam
barricadas. Após várias horas de enfrentamentos, a calma parecia ter retornado no
início da noite ao centro de Túnis. O Ministério do Interior anunciou a
morte de um policial agredido a pedradas. Em outras cidades do país, a polícia usou bombas de gás lacrimogêneo
para dispersar os manifestantes que tentavam atacar a sua sede em Sidi
Bouzid (centre-oeste), berço da revolta de 2011. Em Mezzouna, Gafsa, Monastir (centro) e Sfax (sul) manifestantes
incendiaram e saquearam sedes do Ennahda. Em Kasserine, Béja e Bizerte,
as pessoas gritavam "Vingança, vingança". O presidente francês, François Hollande, condenou o assassinato que
"deixa a Tunísia sem uma de suas vozes mais corajosas". Os Estados
Unidos denunciaram um "ato odioso e covarde". Berlim manifestou a sua "tristeza" e pediu que as autoridades
tunisianas "protejam a herança" da revolução, enquanto Londres denunciou
um "ato covarde e bárbaro com o objetivo de desestabilizar a transição
democrática na Tunísia". A Human Rights Watch, a Anistia Internacional e a Federação
Internacional dos Direitos Humanos (Fidh) condenaram essa morte e
pediram uma investigação independente. A Tunísia está mergulhada em uma crise política, na ausência de um
compromisso sobre a futura Constituição que impede a realização de novas
eleições, enquanto os membros laicos da coalizão governamental exigem a
saída dos islamitas dos principais ministérios. A violência se intensificou e milícias pró-poder foram acusadas de
organizar ataques contra a oposição, principalmente o assassinato de um
opositor agredido até a morte em outubro por manifestantes. Fonte: Yahoo
0702-2013
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